Como o Xbox está se transformando junto com a Microsoft

Como o Xbox está se transformando junto com a Microsoft

Satya Nadella, atual CEO, transformou a Microsoft — e, ao mesmo tempo, a divisão de games da companhia, que passou a aplicar tecnologias como nuvem e IA em seus produtos

PHIL SPENCER, O HOMEM À FRENTE DA DIVISÃO XBOX NA MICROSOFT (FOTO: CHRISTIAN PETERSEN/GETTY IMAGES)
Sentado na ponta de uma grande mesa de reunião, Phil Spencer tem em sua frente um controle de Xbox One com uma estranha gambiarra que gruda um smartphone, que serve como tela, sobre o acessório. “Estou jogando Crackdown 3 em todas as oportunidades que tenho entre reuniões.”

Para os acostumados a sacar o celular na primeira oportunidade para gastar o tempo com games casuais, isso pode parecer normal. Mas Crackdown 3 é bem diferente do seu usual Candy Crush — para começar, é um jogo que ocupa 25 GB e demanda alto poder de processamento para rodar. Em outras palavras, é impossível jogar o game fora da sua sala de estar, a uma curta distância de um Xbox One. Mas isso pode mudar em breve.

Phil Spencer é o homem à frente da divisão Xbox dentro da Microsoft — e ele nunca foi tão poderoso. Spencer responde diretamente ao CEO Satya Nadella. Para aqueles que acompanham a evolução da companhia desde que Nadella chegou ao cargo, em 2014, o nome do executivo sempre vem acompanhado de exemplos de como ele deu vida nova à companhia.

Em resumo, sob a batuta do executivo, a Microsoft passou a dar atenção a três coisas que não eram bem o foco da gestão anterior: ficou mais aberta a parcerias com outras companhias e plataformas; colocou a computação na nuvem no centro de seus planos; e se posicionou como uma das líderes no desenvolvimento da inteligência artificial (IA).

O novo hábito de Phil Spencer é um exemplo dessa nova faceta da companhia — e que se reflete na sua divisão de games. Batizada por ora de Project xCloud, a ideia pode, em última instância, “acabar” com os consoles de videogame. Isso porque o objetivo é permitir o streaming de jogos, de forma parecida ao que o YouTube e Netflix fazem com vídeos. O jogador receberia apenas a imagem do jogo. Todo o resto, que é o trabalho pesado, hoje feito dentro do próprio videogame na sua sala de estar ou quarto, será feito à distância em poderosos servidores da Microsoft.

A ideia é tão transformadora que chama a atenção até mesmo de quem nunca foi tão envolvido com games, mas que está de olho em tendências de tecnologia que podem moldar o futuro. Afinal, a estimativa é que o mercado de jogos eletrônicos valha quase US$ 135 bilhões, de acordo com a consultoria Newzoo.

Em março, o Google anunciou na Game Developers Conference, evento de games que acontece em São Francisco, um projeto bem parecido, o Stadia. A concorrente Sony, que fabrica o PlayStation, também está de olho no streaming de jogos, assim como outra novata no assunto, a Amazon.

A ideia não é mera experimentação tecnológica. A estimativa é que o mundo tem, hoje, 2 bilhões de jogadores — muitos deles escolhem momentos de deslocamento, como o transporte público, para praticar essa atividade. A indústria tradicional de jogos (ou aquela voltada aos gamers hard core) vê uma oportunidade de crescimento ao abraçar essa possibilidade. O plano da Microsoft é chegar a essas pessoas “estejam elas onde estiverem”, afirma Kareem Choudhry, vice-presidente corporativo para games na nuvem. De acordo com ele, a ideia é que o projeto tenha testes públicos já em 2019.

Achar alternativas para permitir que jogos de alto padrão, que geralmente custam para lá dos R$ 250, possam funcionar longe de uma sala de estar com televisão e um console também é importante para tratar das mudanças comportamentais. Pessoas mais jovens cada vez menos usam telas compartilhadas como a televisão. Ao contrário, abraçam telas individuais, como os smartphones, diz Phil Spencer.

Veja abaixo um vídeo, em inglês, sobre o projeto:

Transformação
Reflexos de uma Microsoft em transformação podem ser vistos na divisão de Xbox. Alguns dos projetos da companhia relacionados a games já são menos restritos, como o Mixer, plataforma na qual jogadores podem transmitir imagens enquanto jogam. O aplicativo está disponível até para o rival PlayStation 4.

A nuvem tem sido explorada também. O Project xCloud talvez seja o exemplo mais ambicioso em relação à computação na nuvem. Mas existem outros. A companhia deve lançar, em breve, uma nova versão do Xbox, dessa vez sem leitor de discos. É um movimento de abandono da mídia física — que deve ser substituída por jogos que podem ser baixados após comprados.

Mas e a inteligência artificial, como fica nessa história? Fiz essa pergunta a Spencer. “Começamos a usar IA em nossa divisão para testar jogos”, afirma. Spencer defende que o momento de lançamento de um jogo é quando tudo pode acontecer. Desenvolvedores testam cenários aleatórios antes, em busca de bugs ou falhas no jogo. Mas é somente quando milhares (ou milhões) de pessoas começam a explorar o game que as coisas acontecem — para o bem ou para o mal. O uso de máquinas para testar jogos pode minimizar as chances de os problemas chegarem até os usuários finais.

CONTROLES DE XBOX NO ESTÚDIO DE PROTOTIPAGEM NA SEDE DA MICROSOFT (FOTO: MICROSOFT)

Ao mesmo tempo que abraça conceitos técnicos novos, a Microsoft também repensa o modelo de negócios. Em 2017, lançou o Game Pass, uma assinatura mensal que dá acesso a mais de 100 jogos. Paira no ar, porém, algumas dúvidas sobre o sucesso do modelo. Em conversas com executivos do projeto, poucas perguntas foram respondidas.

Número de assinantes, divisão do valor pago na assinatura entre a Microsoft e os estúdios desenvolvedores, por exemplo, não foram revelados sob a alegação de confidencialidade. Entre os poucos dados concretos que a empresa abre sobre o assunto, estão fatores positivos, como o aumento do número médio de games que um assinante joga — algo, convenhamos, bastante óbvio.

Fonte: epocanegocios.globo.com

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